A MULHER NEGRA E O DIREITO

a feminização da punição e as identidades selecionadas pela justiça penal.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.61541/3sbj1061

Palavras-chave:

Punitivismo, Interseccionalidade, Gênero, Racismo, Sistema Penal

Resumo

O presente artigo tem como objetivo refletir criticamente sobre a concepção de “Sujeito de Direito”. Tem-se como eixo os recortes de raça, gênero e classe e busca entender  como essas interseccionalidades são determinantes na distribuição do punitivismo dentro do sistema penal de justiça. O estudo revela que as mulheres negras presas em flagrante,  que são posteriormente mantidas presas preventivamente  por tráfico de drogas, são mais penalizadas pelo sistema criminal em vigor. Este é explícitamente seletista, racista e estigmatizante. Os procedimentos padrões e raciocínios empregados em audiências de custódia e decisões são verdadeiros instrumentos de repressão contra essas mulheres. Portanto as mulheres negras vivenciam um regime próprio de subalternização, que não estão contemplados pelo feminismo branco eurocêntrico, tampouco pelas formulações universalistas e positivistas do Direito e do seu conceito de “Sujeito”. É preciso questionar  não só a forma como o Direito é operado e quem o opera, mas toda a construção desse regime garantista constitucional, construído sobre a égide epistêmica colonial que exclui as expêriencias dos corpos femininos negros. Nesse sentido, esse artigo tem por escopo refletir essas vulnerabilidades apartir das teorias decoloniais e interseccional como maniera de pensar criticamente o Direito.

Biografia do Autor

  • Jade Hermano, Universidade de Brasília - UnB

    Advogada Criminalista (OAB-GO). Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC- GO). Mestranda em Direito pela Universidade de Brasília, Atua e desenvolve pesquisa sobre Letalidade Prisional e Violência de Estado (UnB). Membro da Comissão Especial de Execução Penal e Comissão de Direitos Humanos da OAB/GO

  • Renan Rocha , Instituto Federal de Goiás – IFG

    Atualmente é coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Filosofia (NUPEFIL) do Instituto Federal de Goiás (IFG) e professor efetivo da mesma instituição. Possui doutorado em Filosofia pela Universidade Paris Nanterre (2021). Foi pesquisador associado no Institut de Recherches Philosophiques (L'IREPH) de l'Université Paris Nanterre (2021-2023). Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em ética e filosofia política. Atua principalmente nos seguintes temas: colonialidade, Derrida, Glissant, identidade, racismo, validismo, desconstrução, hospitalidade, teoria política. 

Referências

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Disponível em: . Acesso em: 08 abr. 2018

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Publicado

13-12-2023

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

A MULHER NEGRA E O DIREITO: a feminização da punição e as identidades selecionadas pela justiça penal. (2023). Revista De Direito - Trabalho, Sociedade E Cidadania, 13(13), 56-86. https://doi.org/10.61541/3sbj1061

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